quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Momento Cultural- A relações Brasil-Japão

Homenagem ao centenário da imigração Japonesa ao Brasil.




Foto:Kasatu-Maru trazendo a bordo o primeiro grande contingente de japoneses emigrantes para o Brasil.


O Brasil parece, nestes últimos tempos, ter renovado seu interesse por esse país e esse povo.

A emigração japonesa deu-se por motivos econômicos. Com a Reforma Meiji de 1868, deflagrada pela abertura do país imposto pelo comodoro norte-americano Perry, em 1854, o Japão, até então fechado pelo regime dos xoguns a qualquer contato com o mundo d'além-mar havia quase 700 anos, percebeu seu atraso com relação a outros países: enquanto ficou escrevendo haicais, fazendo arranjos florais e fabricando espadas perfeitas, o mundo conquistara novas terras em todos os continentes e até vizinhas ao Japão, se rendera aos saberes do Iluminismo, derrubara o feudalismo com a Revolução Francesa e vivia já os aloures da Segunda Revolução Industrial.


Foto: Tripulação a bordo do Kasato-Maru, em 1908


O Japão perdera então a revolução política e permanecia no arcaico feudalismo, perdera a corrida por novas terras e teria que se resignar ao exíguo território altamente insulado e perdera os benefícios econômicos e tecnológicos das duas revoluções industriais. Tinha então, sede de progresso, fome de terras e sua alma de samurai tinha necessidade de poder.
Empreendeu então conquistas de terras e duas guerras com este objetivo: com a China em 1895 e a Rússia em 1905. Venceu a ambas mas ficou com as finanças depauperadas ao extremo. Agora tinha terras, uma Força Armada forte, se auto-denominava Império do Japão, mas seu pequeno território era insuficiente para alimentar seu povo. Foi então incentivada a emigração para o exterior: arquipélago do Havaí, América do Norte e América do Sul, principalmente Brasil, Peru e Argentina.

Apenas 25 anos após a derrota incondicional na II Guerra Mundial, a tenacidade e o amor ao trabalho deste povo fez de seu país a segunda potência econômica mundial.

Centenário da Imigração: O Japão da época

Do outro lado do mundo, extintos pela Reforma Meiji de 1868, os samurais se viram desempregados e se avolumavam nas grandes cidades ao lado de outros desocupados, desempregados como conseqüência das reformas impostas pelo novo regime. O Japão estava superpovoado e mesmo com a reforma agrária promovida pelo novo regime, sua produção agrícola, rudimentar e primitiva - conseqüência do longo isolamento promovido pelo xogunato Tokugawa - insuficiente para alimentar toda a população.

O novo regime tinha pressa na modernização e tornou obrigatórios a educação formal e o serviço militar, cobrando 50 sens (meio yen) de mensalidade escolar (30% da renda familiar para cada criança), e obrigando municípios, vilas e aldeias a construir escolas e contratar professores. O agricultor de renda média de 21 yens ao ano, se viu com menos braços no trabalho e sua renda diminuir drasticamente, causando manifestações contrárias e até revoltas . O esgarçamento do tecido social era visível: crianças morriam de fome ou eram vendidas e a miséria do campo criou desocupados, prostitutas e violência nas cidades. Samurais insatisfeitos se revoltaram contra o novo regime, deflagrando a rebelião de Seinan, obrigando o governo a gastos excessivos, com conseqüente inflação, medidas deflacionárias e queda nos preços dos produtos agrícolas, exacerbando a insatisfação reinante.

Foi uma época de miséria, mas que enriqueceu com seus fatos as artes japonesas. O cinema clássico japonês pelas lentes de Kaneto Shindo (A Ilha nua) e Shohei Imamura (A Balada de Narayama) retrata com fidedignidade essa época. É também de autoria de Imamura o original da peça teatral "Ee Janaika" – Deixa pra lá – que esteve recentemente em tourné pelo Brasil, tendo se apresentado em Florianópolis no dia 05 de março de 2008.

O cineasta norte-americano Edward Zwick em "O último samurai", reconstituiu a batalha de Seinan e os últimos momentos do samurai, líder da rebelião, Saigo Takamori, daimyô do feudo de Satsuma, atual Kagoshima, deixando entrever episódios marcantes do Bushidô – o código de ética do samurai – e da cultura japonesa.

A situação foi agravada pelo empobrecimento causado pelas guerras com a China (1895) e com a Rússia (1905). O Japão da época era um país depauperado, superpopuloso, insatisfeito e sem comida. Era preciso promover a emigração.

A 'nação' nipo-brasileira



Foto:O lendário Kassato Maru, navio que trouxe primeiro grande contingente de japoneses para o Brasil, cerca de 781 pessoas.


A imigração japonesa no Brasil teve início em 18 de junho de 1908 com a vinda de 733 pessoas que compunham 165 famílias de agricultores e mais 48 pessoas que vieram sem os seus familiares, perfazendo um total de 781 pessoas a bordo do vapor "KASATO-MARU", que aportou às 09:30 horas no cais nº 14, atualmente armazém 16, no Porto de Santos.

Permaneceram por alguns dias na Hospedaria dos Imigrantes, atual Museu do Imigrante, na Capital, antes de seguir viagem para as fazendas de café no interior do Estado de São Paulo e outros estados.
O contrato de imigração entre os dois países foi firmado em 06 de novembro de 1907, em São Paulo, e assinado pelo Sr. Ryu Mizuno, Diretor Presidente da Cia. de Imigração Kôkoku do Japão e pelo Dr. Carlos Botelho, Secretário da Agricultura do Estado de São Paulo.

A imigração japonesa ao Brasil continuou até a eclosão da II Guerra Mundial em 1941, quando somava um número de 188.986 imigrantes. Após o término da II Guerra Mundial foi retomado o processo de imigração, em 1952, estendendo-se por 10 anos, período em que vieram cerca de 50 mil imigrantes agricultores. E, a leva auge do pós guerra foi em 1959, vindo 7.041 imigrantes.
No início da década de 1960 o Japão entrava numa fase de grande prosperidade e de rápido crescimento econômico, e, como a economia brasileira também estava em ascenção o Brasil não mais necessitava de trabalhadores agrícolas estrangeiros.
Essa época marcou certa transformação nas relações nipo-brasileiras, pois de uma fase de predomínio da imigração, passou-se a uma outra, calcada no intercâmbio econômico. Isso quer dizer que no decorrer dos anos, o comércio entre os dois países cresceu, aumentando o número de investimentos e intensificando-se as cooperações econômica e técnica entre os dois países.

No período que se seguiu, o Brasil adotou a política de receber somente imigrantes que dispunham de capacidade financeira e que aplicassem em empreendimentos agrícolas, ou profissionais qualificados no setor industrial. Nessas condições aportaram nas terras brasileiras alguns milhares de japoneses.
E, por volta de 1977, o número de descendentes japoneses já era de 765.710 pessoas e a posição social destes cada vez mais elevada.
No caminho percorrido, a par do progresso, houve inúmeras dificuldades e dramas. Os imigrantes trabalharam arduamente, enfrentando clima, língua e costumes diferentes, e não poucos tombaram vitimados pela doença. Em muitos e diversos aspectos, esses imigrantes defrontaram-se com as diferenças culturais.Contudo, com um único objetivo de dar uma melhor formação escolar aos seus filhos, os imigrantes japoneses dedicaram-se com afinco na agricultura.

Atualmente, a colônia japonesa, não somente continua dando a sua contribuição na área agrícola brasileira, assim como os seus descendentes estão atuando nas diversas áreas: política, médica, empresarial, judicial, meio acadêmico e de outras várias profissões.

A população de japoneses e seus descendentes na cidade de São Paulo está estimada em mais de 326.000 pessoas. Podemos constatar que a luta dos imigrantes japoneses não foi em vão. A presença da cultura japonesa no Brasil é cada vez mais nítida em suas variadas formas, que vão desde a mais avançada tecnologia até os sofisticados sabores da culinária japonesa.

Graças a essa dedicação, o nível das relações entre os dois países é fruto dos esforços desses imigrantes e seus descendentes brasileiros que vieram trabalhando para o estreitamento dessa amizade e hoje são a verdadeira ponte que liga o Japão e o Brasil.

Denominações:
Nipo-brasileiro é um cidadão brasileiro com ascendentes japoneses. Também são consideradas nipo-brasileiras as pessoas nascidas no Japão radicadas no Brasil.

Atualmente, estima-se que haja cerca de 1,5 milhão de nipo-brasileiros, cuja imensa maioria reside no estado de São Paulo (capital e municípios como Mogi das Cruzes, Osvaldo Cruz ou Bastos) e no norte do Paraná (municípios como Curitiba, Maringá, Assaí ou Londrina). Há também pequenas coletividades no Pará, atraídos inicialmente pelo cultivo da pimenta do reino.

Os descendentes de japoneses chamam-se nikkei, sendo os filhos nissei, os netos sansei e os bisnetos yonsei. Os nipo-brasileiros que foram ao Japão trabalhar a partir do fim dos anos 80 são denominados dekassegui. A denominação vem da própria língua japonesa.

Atualmente, as maiores comunidades nikkei estão no Brasil (São Paulo e Paraná), Estados Unidos (Califórnia e Havaí) e China (Xangai). Há também importantes comunidades nikkei no Peru, México, Rússia e Austrália (Queensland e Sydney).

Fontes: pindvale

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